[Terra Morta RPG] Capítulo 4 - Matthew




Mais uma noite sem pregar os olhos. Deitado no interior daquele carro, lutava contra o sono persistente. Mas não podia dormir. Não com eles lá fora. Levantou-se com cuidado, apanhou a barra de ferro recostada no banco, e espiou o lado de fora do automóvel.

Eram quatro. Podia vê-los ao longe, vagando a esmo pela paisagem apocalíptica que se erguia diante de seus olhos. A chuva se chocava violentamente contra o vidro, omitindo qualquer som que pudesse revelar sua localização. Talvez aquela fosse a oportunidade ideal para que fugisse em busca de um lugar seguro no qual pudesse descansar.
Abriu a porta com cuidado, e sentiu a chuva em seu rosto. Furtivo, se esgueirou para fora do carro e seguiu em frente, usando outros automóveis como cobertura. Evitando espirar através das vidraças, temendo que fosse descoberto, prosseguiu agachado, atento a qualquer sinal de perigo.
Não conhecia aquela parte da cidade, e não sabia para onde ir.
Posicionou-se na esquina, para que pudesse verificar a situação na rua seguinte. Com a barra de ferro erguida na altura dos olhos, espiou, pronto para atacar qualquer filho da mãe que tentasse pegar-lhe de surpresa. Mas não havia nenhum deles à vista.
Mediante a aparente ausência de perigo, apressou o passo.
Só percebeu o erro que havia cometido quando a viu deslizar por detrás de uma caminhonete; uma mulher, não mais velha que ele, grunhindo feito um animal faminto que acabara de encontrar a presa ideal. Ela atacou sem hesitar, mas Matt foi mais rápido, desferindo um golpe certeiro em seu rosto. Ouviu o “crack” do maxilar se quebrando, e a inimiga se chocando contra o chão para logo em seguida se levantar e arriscar uma segunda investida.
Com destreza, jogou-se para o lado a tempo de evitar ser jogado contra a parede, e quando se preparava para conceder-lhe o golpe de misericórdia, ouviu um urro animalesco não muito longe de onde estava. E depois outro. E outro. Havia sido descoberto.
Então correu. Podia ouvir os passos rápidos contra as poças d’água que se formavam no asfalto, mas em momento algum arriscou olhar para trás. Manteve-se firme e seguiu em frente tentando não perder o fôlego.
Guiado por seus próprios instintos, seguiu por ruas e becos pelos quais jamais havia passado. A roupa encharcada pela agua da chuva dificultava a locomoção, e após um tempo mal aguentava o peso do próprio corpo sobre as pernas, que doíam e pareciam implorar por clemencia.
Avistou então um mercado não muito longe de onde estava. Obrigou-se a continuar, agora com um destino definido, e não demorou a alcançar as portas do estabelecimento as quais, para sua total frustação, estavam trancadas.
Olhou para trás, vislumbrando a imagem assustadora de seis daqueles canibais correndo em sua direção, as bocarras escancaradas em gritos incessantes que atraiam ainda mais deles para se juntar à procissão de sua morte eminente.
Deu a volta no mercado, em busca de qualquer rota pela qual pudesse ingressar para o interior do mesmo. Deparou-se com uma janela de vidro, e qual não sua surpresa quando começou a gargalhar mediante a situação.
Quebrou a vidraça, ainda com um sorriso no rosto, e entrou.
Bastou um momento para que voltasse a ouvi-los do lado de fora, cada vez mais próximos da entrada improvisada. Sem perder tempo, Matt correu até uma das prateleiras e, com um pouco de esforço, arrastou-a e bloqueou a janela. Podia ouvi-los do lado de fora, martelando a barricada com os punhos e gritando encolerizados por terem perdido o jantar.
Suspirou aliviado.
Seguiu até um dos caixas e se sentou. O lugar nem ao menos parecia ter sido afetado por toda a desgraça na qual se encontrava o restante na cidade. Julgando estar seguro, Matt se debruçou sobre o caixa e, dessa vez, deixou-se levar pelo sono.

Acordou com o som da chuva lá fora.
Não sabia por quanto tempo havia dormido, mas tinha a impressão de que não fora tanto quanto realmente desejava. Ao menos se sentia descansado, ou melhor, menos cansado. Levantou-se e olhou para os corredores logo adiante, atraído pelas prateleiras repletas de mercadorias. Não comia há dias.
A iluminação era precária, ali. Procurou por frutas, mas o cheiro o alertou que, àquela altura, estavam todas estragadas. Voltou para os corredores, e não viu dificuldade em encontrar algumas barras de cereais, as quais abriu sem hesitar e abocanhou como se fossem a ultima comida na cidade.
Sorriu. De certa forma, talvez realmente fossem.
Matt seguiu até o balcão e tentou o telefone, mas não havia sinal. Desistiu na quarta tentativa, e voltou a se sentar. Algum tempo se passou até que resolvesse explorar o lugar e se certificar de que era de fato seguro. Afinal, estava trancado ali, precisava ter certeza de estar livre de perigo antes que o pior acontecesse.
O lugar não era assim tão grande, e desde que entrara não houvera nenhum sinal daqueles monstros, o que o deixava menos inseguro. Seguiria até o açougue e, por ultimo, checaria os escritórios e as demais salas no segundo andar.
Trocou a barra de ferro por dois longos e pontiagudos espetos de churrasco, e só então seguiu em frente.
Matt atravessou o balcão de frios com cuidado redobrado, atento à porta a alguns metros de onde estava. Para sua surpresa, havia sangue ali, no chão, forçando-o a hesitar mediante a situação. Aproximou-se da porta de metal, tentando ouvir o que se passava do lado de dentro, mas a chuva lá fora dificultava que constatasse qualquer sinal vindo dali.
A maçaneta gelada proporcionou-lhe um arrepio incômodo.
Mas era agora ou nunca, e havia optado pelo agora.



O texto acima não tem qualquer vínculo com a história original de Terra Morta e nem foi escrito por Tiago Toy. É uma adaptação do RPG mestrado no Orkut por Luan Matheus, escrita pelo próprio.

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